- Experimento mostra que é possível criar lembranças falsas e que estas usam os mesmos mecanismos cerebrais das verdadeiras
RIO – Publicado pela primeira vez em 1966, o conto “Nós lembramos por
você por atacado”, de Philip K. Dick, inspirou dois filmes intitulados
“Vingador do futuro” no Brasil. Na história, uma empresa, batizada
Rekal, oferece implantes de falsas lembranças de viagens e aventuras a
clientes que não têm como pagar pela experiência verdadeira. Agora, a
ideia do escritor americano começa a sair do campo da ficção científica
para a realidade. Um grupo de pesquisadores do Instituto de Tecnologia
de Massachusetts (MIT) conseguiu pela primeira vez implantar memórias em
camundongos.
Além de ajudar a revelar não só como guardamos as lembranças de acontecimentos mas onde elas ficam armazenadas no cérebro, o experimento provou que tanto as memórias verdadeiras quanto as falsas utilizam os mesmos mecanismos cerebrais, não podendo, assim, ser diferenciadas pelos indivíduos. Este fenômeno já foi muito bem documentado em tribunais, nos quais acusados foram considerados culpados com base em declarações de vítimas e testemunhas que estavam certas sobre suas lembranças, mas depois acabaram inocentados por exames de DNA.
- Sejam memórias falsas ou genuínas, os mecanismos cerebrais por trás da recuperação da memória são os mesmos – diz Susumu Tonegawa, professor de biologia e neurociência do MIT e principal autor de artigo sobre o experimento, publicado na edição desta semana da revista “Science”.
Embora tenha recebido o Prêmio Nobel de Medicina de 1987 por seu trabalho em imunologia, Tonegawa tem se dedicado nas últimas décadas a investigar os processos de formação e a manipulação de memórias. De acordo com as teorias mais aceitas atualmente, a lembrança de episódios, isto é, a memória das experiências pelas quais passamos, é construída por vários elementos, que incluem objetos e informações sobre o ambiente e o tempo. Estas associações são codificadas no cérebro por mudanças físicas e químicas nos neurônios, assim como por modificações nas conexões entre eles, formando uma estrutura complexa que os neurocientistas batizaram como engrama. Até recentemente, no entanto, mesmo a existência dos engramas ainda era considerada hipotética, e determinar um local onde deixam suas marcas no cérebro, um desafio ainda maior para os pesquisadores.
No ano passado, porém, Tonegawa e sua equipe conseguiram detectar as marcas da formação dos engramas, resolvendo então procurar sua fonte com base em uma antiga hipótese, a de que o centro de processamento da memória está numa estrutura cerebral conhecida como hipocampo, localizada no lobo temporal, sugerida nos anos 40 por experimentos do neurocirurgião canadense Wilder Penfield. Para isso, Tonegawa e sua equipe usaram um ramo da neurociência chamado optogenética, em que camundongos são geneticamente modificados de forma que seus neurônios possam ser ativados, controlados ou rotulados por meio de estímulos ou marcadores luminosos.
- Comparado com a maioria dos estudos que tratam o cérebro como um caixa-preta, tentando acessá-lo de fora para dentro, estamos tentando estudar o cérebro de dentro para fora – resume Xu Liu, pesquisador da equipe de Tonegawa. - A tecnologia que desenvolvemos para este experimento nos permite dissecar em detalhes e até potencialmente mexer com o processo da memória por meio do controle direto das células cerebrais.
Na experiência, os pesquisadores primeiro colocaram os camundongos em uma gaiola A, onde puderam explorar o ambiente livremente enquanto a formação da memória do local era acompanhada pelos cientistas. No dia seguinte, os animais foram colocados numa segunda e bem diferente gaiola B, onde depois de um breve período de tempo sofreram choques elétricos moderados enquanto os pesquisadores usavam luz para reativar os neurônios associados à memória da gaiola A. No terceiro dia, os camundongos foram postos de volta na gaiola A e congelaram de medo, mesmo nunca tendo recebido choques nela, demonstrando que tiveram implantada uma falsa memória do local porque quando sofreram o choque na gaiola B estavam relembrando estar na A.
Além de ajudar a revelar não só como guardamos as lembranças de acontecimentos mas onde elas ficam armazenadas no cérebro, o experimento provou que tanto as memórias verdadeiras quanto as falsas utilizam os mesmos mecanismos cerebrais, não podendo, assim, ser diferenciadas pelos indivíduos. Este fenômeno já foi muito bem documentado em tribunais, nos quais acusados foram considerados culpados com base em declarações de vítimas e testemunhas que estavam certas sobre suas lembranças, mas depois acabaram inocentados por exames de DNA.
- Sejam memórias falsas ou genuínas, os mecanismos cerebrais por trás da recuperação da memória são os mesmos – diz Susumu Tonegawa, professor de biologia e neurociência do MIT e principal autor de artigo sobre o experimento, publicado na edição desta semana da revista “Science”.
Embora tenha recebido o Prêmio Nobel de Medicina de 1987 por seu trabalho em imunologia, Tonegawa tem se dedicado nas últimas décadas a investigar os processos de formação e a manipulação de memórias. De acordo com as teorias mais aceitas atualmente, a lembrança de episódios, isto é, a memória das experiências pelas quais passamos, é construída por vários elementos, que incluem objetos e informações sobre o ambiente e o tempo. Estas associações são codificadas no cérebro por mudanças físicas e químicas nos neurônios, assim como por modificações nas conexões entre eles, formando uma estrutura complexa que os neurocientistas batizaram como engrama. Até recentemente, no entanto, mesmo a existência dos engramas ainda era considerada hipotética, e determinar um local onde deixam suas marcas no cérebro, um desafio ainda maior para os pesquisadores.
No ano passado, porém, Tonegawa e sua equipe conseguiram detectar as marcas da formação dos engramas, resolvendo então procurar sua fonte com base em uma antiga hipótese, a de que o centro de processamento da memória está numa estrutura cerebral conhecida como hipocampo, localizada no lobo temporal, sugerida nos anos 40 por experimentos do neurocirurgião canadense Wilder Penfield. Para isso, Tonegawa e sua equipe usaram um ramo da neurociência chamado optogenética, em que camundongos são geneticamente modificados de forma que seus neurônios possam ser ativados, controlados ou rotulados por meio de estímulos ou marcadores luminosos.
- Comparado com a maioria dos estudos que tratam o cérebro como um caixa-preta, tentando acessá-lo de fora para dentro, estamos tentando estudar o cérebro de dentro para fora – resume Xu Liu, pesquisador da equipe de Tonegawa. - A tecnologia que desenvolvemos para este experimento nos permite dissecar em detalhes e até potencialmente mexer com o processo da memória por meio do controle direto das células cerebrais.
Na experiência, os pesquisadores primeiro colocaram os camundongos em uma gaiola A, onde puderam explorar o ambiente livremente enquanto a formação da memória do local era acompanhada pelos cientistas. No dia seguinte, os animais foram colocados numa segunda e bem diferente gaiola B, onde depois de um breve período de tempo sofreram choques elétricos moderados enquanto os pesquisadores usavam luz para reativar os neurônios associados à memória da gaiola A. No terceiro dia, os camundongos foram postos de volta na gaiola A e congelaram de medo, mesmo nunca tendo recebido choques nela, demonstrando que tiveram implantada uma falsa memória do local porque quando sofreram o choque na gaiola B estavam relembrando estar na A.
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